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David Bowie, Bjork, Sylvie Guillem, Robert Lepage. São quatro dos artistas com quem Alexander McQueen (1969-2010) colaborou. Se isto não bastasse para afirmar a sua singularidade no mundo da moda, podemos juntar-lhe as originais e arrojadas roupas que concebia, e os elaboradíssimos e surpreendentes desfiles em que as apresentava, indissociáveis das suas criações e também quase espectáculos autónomos em si; e a forma como abordava, nas suas criações e na passarela, temas nunca antes tratados ou apresentados: a sua origem social, os dramas e danos da sua vida pessoal e familiar, os seus sonhos, os sentimentos sobre o mundo em que vivia e até os conflitos com a indústria da moda.
Tudo isto, e muito mais, é mostrado e ilustrado por Ian Bonhôte e Peter Ettedgui no seu documentário McQueen. Meticulosamente e sem sensacionalismo, e com a ajuda de muito material de arquivo, entre home movies, fotografias e desenhos, e entrevistas a familiares, íntimos, amigos, funcionários e admiradores do biografado, os realizadores mostram como o talento de Alexander McQueen transcendia o mundo a que ele dedicou a vida, o seu estatuto de outsider na moda, a forma como a revolucionou (e por vezes chocou), da concepção e criação das roupas à ideia da sua apresentação nos desfiles das colecções.
Bonhôte e Ettedgui mostram ainda como a moda é uma actividade criativa que também pode destruir. As exigências da indústria e a pressão comercial, e o esforço de gerir a Givenchy e manter a sua própria marca, aliados aos seus problemas emocionais e psicológicos, levaram Alexander McQueen ao suicídio. A maior qualidade de McQueen é não ser um filme corporativo, apenas para o meio da moda a que o biografado nunca se restringiu, e ao qual jamais se acomodou.
Por Eurico de Barros