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E cá estamos mais uma vez perante um dos mais ingratos formatos do cinema, o filme biográfico literário, que geralmente redunda numa versão muito Reader’s Digest sobre a vida dos autores abordados, sem conseguir dizer algo de relevante sobre as suas obras ou as condições em que foram escritas. É raríssimo um destes biopics de escritores conseguir substituir-se a uma biografia escrita, ou sequer emulá-la.
A vítima desta feita é Mary Shelley, filha de radicais e livres-pensadores, autora de Frankenstein e de O Último Homem, obras-chave da literatura fantástica e de ficção científica, e mulher do poeta romântico Percy Shelley, aqui interpretada por Elle Fanning, que além de ser americana, é muito mais bonita do que a verdadeira Mary Shelley.
Realizado pela saudita Haifaa Al-Mansour, a primeira mulher a rodar um filme no seu país, O Sonho de Wadjda, Mary Shelley é uma obra convencional, tépida e rasa, sem nada de inédito ou inesperado para dizer sobre a biografada, a sua vida íntima, a relação com o marido e outros autores da mesma época e os seus processos de criação literária. Aquilo a que se chama uma estopada, embora compostinha e didáctica.
Por Eurico de Barros