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Mãe rosa vive em Manila com o marido e quatro filhos. Tem uma pequena loja de conveniência num bairro pobre, onde vende de tudo. Incluindo droga. Um dia, a polícia entra pela loja, descobre a droga e o livro de clientes, e leva Rosa e o seu homem para a esquadra.
Uma vez lá, os lucros do tráfico são rapidamente “apreendidos” e as cartas postas na mesa. Para serem libertados, há que pagar. O casal denuncia o seu fornecedor, masnemassimconseguesair. Só por 60 mil pesos. E Rosa e os filhos vão para a rua em busca de dinheiro, que tem que ser conseguido seja como for: pedindo a familiares, amigos e vizinhos, empenhando coisas, recorrendo à prostituição.
Brillante Mendoza (Serviço, Cativos) filma esta história passada no fim da cadeia alimentar do crime nas Filipinas (os polícias estão apenas um elo acima de Rosa e do marido) com uma câmara peripatética que simula um imediatismo documental, e com um naturalismo duro, feio e sujo, frisando quer a forma casual como os corruptos se comportam (extorquir dinheiro parece ser tão natural e habitual para os polícias como beber uma cerveja), quer a resignação pragmática da família de Rosa perante a situação.
Mãe Rosa seria um grande filme, se antes de Mendoza não tivesse existido um realizador filipino chamado Lino Brocka, que já fez tudo isto e muito mais, e expôs os podres do seu país sem precisar de tanta agitação estilística. Jaclyn Jones ganhou o prémio de Melhor Actriz em Cannes 2016, com a sua interpretação de Rosa, reduzida ao osso da impassibilidade desesperada.
Por Eurico de Barros