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Assim como há filmes de amor, também há de desamor. Em Loveless – Sem Amor, de Andrei Zvyagintsev (Elena, Leviatã), os pais de Alyosha, de 12 anos, estão em processo de divórcio e passam o tempo em discussões violentas e azedas. Alyosha não é amado, não é ouvido, foi um filho indesejado e um dia desaparece de casa.
Os pais só dão por isso 48 horas depois, e mesmo durante as buscas, feitas por um grupo de voluntários do bairro (já que a polícia não tem efectivos, mãos a medir nem muita vontade de perder tempo com um miúdo em fuga), não param de se confrontar, insultar e recriminar, como se eles, e as suas angústias e frustrações, e não o filho desaparecido, fossem o mais importante. Zvyagintsev filma esta história de desamor familiar, egoísmo desmesurado, desintegração social e aridez emocional e moral como um óbvio correlativo da Rússia de hoje, e com uma frigidez visual que não deixa a menor dúvida sobre o pessimismo que ele nutre em relação ao estado do seu país.
Por Eurico de Barros