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A representação do adolescente no cinema americano. Eis um assunto que podia encher volumes e volumes com teses, estudos e análises, e para as quais Greta Gerwig contribui com a sua primeira realização, Lady Bird, que também escreveu.
A recepção entusiástica e elogiosa que tem rodeado o filme, nomeado para cinco Óscares, quase poderia levar a crer que Lady Bird não tem predecessores, e que, por exemplo, não existiu um realizador chamado John Hughes que, nos 80, captou, numa série de filmes, o que significava ser jovem nos EUA, privilegiado, da classe média ou remediado, e membro de uma de muitas tribos adolescentes.
Passado em 2002, Lady Bird é um filme indie afável, desempoeirado, sensível, bem observado e escrito, sobre uma miúda de 17 anos (óptima Saiorse Ronan), chegada ao pai e atazanada pela sempre preocupada mãe, ansiosa por deixar a pasmaceira da sua Sacramento e viver numa cidade cosmopolita, preocupada em escolher uma boa universidade, e que vive peripécias próprias de quem tem a sua idade, o seu feitio espinhudo, as suas embirrações e ambições.
Mas Lady Bird tem também limitações, mantém-se fiel a muitas convenções e é perfeitamente corriqueiro do ponto de vista cinematográfico. O banzé encomiástico em seu redor só se pode explicar por falta de memória, pela rarefacção do género e pelo facto de ter chegado a vez de Greta Gerwig estar na mó de cima em Hollywood.
Por Eurico de Barros