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Estávamos nós a pensar que já nos tínhamos livrado por algum tempo das paródias, dos pastiches e dos travestis dos filmes de James Bond, quando apareceu Kingsman: Serviços Secretos (2014), de Matthew Vaughn, baseado no comic de Mark Millar e Dave Gibbons.
Procurando combinar o espírito bondiano e dos filmes espionagem em geral, e de séries clássicas como Os Vingadores, com a violência hipertrofiada, disparatada e graficamente cartoonesca com que os comics infectaram o cinema, Kingsman: Serviços Secretos punha em cena um grupo de agentes secretos ingleses cuja fachada era uma alfaiataria de luxo de Saville Row.
O filme era o que se podia esperar do produtor Guy Ritchie e autor de Kick-Ass, armado ao pingarelho de “sofisticado” e influenciado até à medula pelo que passa hoje em Hollywood por cinema de acção. O produto de um cabouqueiro com a ilusão de ser um gentleman.
O seu inevitável sucesso levou à indispensável continuação. E eis assim Kingsman: O Círculo Dourado, em que Vaughn, tal como muitos outros realizadores da sua geração e com as suas referências, continua a não perceber que aquilo que resulta e passa por aceitável e verosímil nas páginas de um comic, não funciona necessariamente da mesma maneira quando transportado para o cinema; que o vale-tudo sistemático não é boa política narrativa ; e que a suspensão da descrença do espectador tem limites.
Em Kingsman: O Círculo Dourado, uma supervilã que domina a produção de droga mundial rebenta com a sede da Kingsman, mata quase todos os agentes e faz o mundo refém das suas exigências. É vira o disco e toca o mesmo: história absurda mesmo no seu registo paródico, violência grotesca, acção descerebrada, humor forçado (até o septuagenário Elton John é metido ao barulho). Esperemos que Julianne Moore, Colin Firth e Jeff Bridges tenham sido muito bem pagos para entrar nesta espalhafatosa pepineira.
Por Eurico de Barros