[title]
Depois da desmitificação e da desconstrução dos super-heróis, eis agora, com Joker, o biografismo dos vilões. Já não chega estes cumprirem as funções para que foram criados, serem os representantes do mal e das forças negativas e perversas da sociedade. Há também que inventar uma história e criar um contexto para “explicar”, ou até justificar, o que são e como se comportam. Em Joker, passado nos anos 80, Todd Phillips tira do saco os mais fatigados lugares comuns da sociologia pronta-a-usar, para contar como é que o anónimo Arthur Fleck se transformou no Joker, um dos arqui-inimigos de Batman.
É a vulgata da “vítima da sociedade” em toda a sua vitimização fácil, desgraça pingona e autocomiseração em jorro contínuo. Não há mal que não venha a Fleck, interpretado com cabotinismo exibicionista por Joaquin Phoenix, uma colecção de tiques, caretas e contorções. Fleck quer ser cómico de stand up mas não tem piada, sofre de uma condição neurológica que lhe provoca um riso incontrolável e ridiculo, perde os benefícios da Segurança Social, é gozado na TV e descobre coisas tenebrosas sobre a mãe e a sua própria infância. Ainda por cima, é destratado pelo insensível milionário Thomas Wayne, pai do futuro Batman e figura chapadamente “trumpiana”. Logo, diz o filme, é perfeitamente compreensível que Fleck se torne no assassino psicopata chamado Joker e se vire contra a “sociedade” que tanto o maltratou. Joker é cinema tão banal como demagógico.
Por Eurico de Barros