Em o grande conquistador, a personagem interpretada por Woody Allen tinha Humphrey Bogart como amigo imaginário e conselheiro sentimental. Em Jojo Rabbit, de Taika Waititi, o protagonista, um miúdo de dez anos, o Jojo do título (um óptimo Roman Griffin Davis), que vive na Alemanha nazi e é um entusiástico adepto do regime, tem o próprio Adolf Hitler (interpretado por Waititi) como amigo imaginário.
Taika Waititi não é o primeiro a fazer humor com Hitler e com o nazismo, para melhor os atacar. Charlot fê-lo em O Grande Ditador, tal como Ernst Lubitsch e Mel Brooks em Ser ou Não Ser, original e remake, e como os Monty Python num memorável sketch de Os Malucos do Circo, em que Hitler, que se refugiou em Inglaterra, mudou o nome para Hilter e concorre a umas eleições regionais intercalares. O problema com Jojo Rabbit é que Waititi não consegue conciliar dois registos opostos, a comédia satírica e o drama pungente, acabando por deixar que o filme se torne caricaturalmente simplista e forçadamente lamechas, com uma pesada mochila de didactismo pueril.