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A realizadora e actriz francesa Maïwenn comprime num filme de duas horas a vida de Madame du Barry, aliás Jeanne Bécu, nascida ilegítima e plebeia, e que, no século XVIII se tornou na última amante de Luís XV, e na sua favorita, tendo acabado por morrer guilhotinada durante o Terror na Revolução Francesa. A recriação da época, dos seus costumes, mentalidades e relações sociais, e da vida na corte em Versalhes, remete para a melhor e mais faustosa tradição do filme histórico francês, sem quaisquer concessões às agendas ideológicas contemporâneas. Está lá boa parte do essencial sobre a personagem, e Johnny Depp encaixa surpreendentemente bem no papel de Luís XV, que interpreta com presença e sempre em nuance, e dominando o francês sem uma falha. Só que Maïwenn cometeu o erro fatal de, além de realizar e participar na escrita do argumento, também interpretar o papel de Jeanne du Barry, quando tem quase o dobro da idade da personagem e lhe falta a sua beleza delicada estonteante (um historiador francês chamou-lhe “a Catherine Deneuve do seu tempo”). Não faltam em França actrizes da faixa etária certa, e com as qualidades necessárias para o fazer, mas parece que o ego de Maïwenn falou mais alto. E não lhe devia ter dado ouvidos.