É muito difícil a qualquer adaptação à televisão ou ao cinema fazer justiça a It, um dos livros mais longos de Stephen King (mais de mil páginas), com uma história cheia de personagens, de peripécias e de informação, e um vilão que é muito mais do que aquilo que aparenta, e dividida em duas épocas (anos 50 e anos 80). Só numa série de televisão, daquelas com 10 ou 12 episódios, é que It conseguiria caber.
A minissérie de 1990, It – Palhaço Assassino, de Tommy Lee Wallace, mesmo tendo mais de três horas de duração, teve de cortar e de condensar bastante. Esta nova versão para cinema do argentino Andy Muschietti (Mamã), tenta resolver o problema com dois filmes. O primeiro (o presente) cobre os acontecimentos referentes à juventude dos sete protagonistas e ao seu primeiro confronto com Pennywise, o palhaço sobrenatural, enquanto o segundo (que ainda não está feito), vai mostrar o que aconteceu 27 anos mais tarde, quando Pennywise regressa e os sete amigos travam a batalha definitiva com ele. Mesmo assim, foi inevitável voltar a desbastar, eliminar e sintetizar muita coisa.
Quem viu a minissérie e se assustou a sério com o Pennywise de Tim Curry não vai ficar convencido com o de Bill Skarsgard. Onde Curry dava espaço para a personagem fingir que não era o que parecia e cultivava um tom escarninho que introduzia uma nota de humor sádico, o Pennywise de Skarsgard atira-se logo à jugular e a sua malignidade é mais óbvia e menos saboreada.
A acção foi actualizada para os anos 80 na parte I e para o nosso tempo na II, e um dos pontos de força do filme é o jovem elenco, com cada um dos sete miúdos a ter tempo suficiente para se individualizar, para ser uma personagem plena e não apenas uma atitude ou um estado de espírito. Muschetti conseguiu também equilibrar o lado Conta Comigo da história com o de terror infernal. Agora, teremos que esperar para ver como se vai sair na segunda parte.