Indiana Jones and the Dial of Destiny
Photograph: Lucasfilm Ltd.

Indiana Jones e o Marcador do Destino

É profundamente lamentável que Indiana Jones não saia de cena em glória e protagonizando uma última, arrebatadora e inesquecível aventura.
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A Time Out diz

Um filme de acção e aventuras também se mede pela qualidade do vilão, e o de Mads Mikkelsen em Indiana Jones e o Marcador do Destino (que devia ser “Mostrador do Destino”…), de James Mangold, é o pior de todos os filmes da série: um cientista nazi que os americanos salvaram para o aproveitar no programa especial da NASA que levou o Homem à Lua (uma referência preguiçosa, e mais do que óbvia, a Wernher von Braun). O seu Dr. Voller é tão gelado e tão imperturbável que, estando no filme, Mikkelsen parece estar sempre com a cabeça noutro sítio, e Voller, em vez de perfídia e amoralidade, projecta tédio e desinteresse, como se estivesse ali apenas a passar o tempo.

Tempo esse que é central ao enredo de Indiana Jones e o Marcador do Destino, cuja história se centra numa invenção de Arquimedes, o Marcador do Destino do título, que permite viajar no mesmo. O matemático e inventor dividiu-o em dois para evitar que caísse em mãos erradas, fazendo-se enterrar com uma delas. É claro que os nazis, na pessoa de Voller, querem ficar com ela para fins inconfessáveis, e a corrida pela sua posse preenche todo o filme, levando os vilões e Indy e os seus coadjuvantes de Tânger à Sicília. O tempo deixou também as suas marcas em Indiana Jones, que é agora octogenário (estamos no final da década de 60), tal como Harrison Ford, o seu intérprete. Indy perdeu o filho no Vietname, a mulher separou-se dele e dá agora aulas numa universidade menor de Nova Iorque.

Por isso, e como o início do filme se passa na II Guerra Mundial e envolve muita acção, Ford foi rejuvenescido digitalmente para que a sua presença nessas sequências tivesse credibilidade. Mas é penoso ver o outrora enérgico e destemido Indiana Jones artificialmente remoçado, por um lado, e pelo outro tratado com todo o cuidado pelo enredo. Ao ponto de a personagem, apesar de ainda protagonizar, na década de 60 em que decorre o grosso da acção, um par de sequências movimentadas (destaque-se a perseguição a cavalo e moto por uma Nova Iorque em festa, que acolhe o trio de astronautas que pisaram a Lua pela primeira vez), raramente ser posta numa situação em que corra perigo de vida, ao contrário do que acontece nos outros quatro filmes.

Como sucede nestas séries, o filme seguinte é sempre pior do que o anterior. Assim, ao histórico e jubilatório Os Salteadores da Arca Perdida sucedeu um ainda bom mas inferior Indiana Jones e o Templo Perdido, a que se seguiu o mediano Indiana Jones e a Última Cruzada, que deu lugar ao escancaradamente pateta (mas, ainda assim, mais divertido do que o seu antecessor) Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. Se estes dois últimos revelavam a gradual escassez de soluções narrativas para continuar a manter o estatuto heróico de Indy lá bem alto, ao mesmo tempo que lidavam com o envelhecimento de Harrison Ford (entre o terceiro e o quarto filme mediaram 29 anos), mesmo assim ainda se vêem com algum gosto. O que já não se passa com este Indiana Jones e o Marcador do Destino: era completamente dispensável.

Substituindo Steven Spielberg na realização, James Mangold assina, não sem algum atabalhoamento, um filme que não passa de uma transcrição, menor em tudo, laboriosa e mecânica, e muito pouco empolgante, dos temas, situações, personagens, tropos aventurosos, sequências extremas de perseguição, de confronto, e de fantasia ou ficção científica, e dos dispositivos narrativos que fazem a identidade da saga de Indiana Jones. E que, tendo em conta a condição do herói e de Harrison Ford, deposita nos ombros da irritante personagem de Helena (personificada pela ainda mais irritante Phoebe Waller-Bridge), a afilhada de Indy, uma boa parte das despesas da história.

Os argumentistas bem se esforçam para rechear a história de nazis e capangas cruéis para serem esmurrados, baleados e terem mortes horríveis; vão buscar a personagem de Sallah (John Rhys-Davies), o comparsa árabe de Indy no primeiro e no terceiro filme da série, mas negam-lhe participação na intriga, usando-o só para efeito de nostalgia; arranjam mais um miúdo para coadjuvar Helena e trocar réplicas com o herói, mas não passa nenhuma corrente entre eles, ao contrário do que acontecia com o Minorca de Indiana Jones e o Templo Perdido; e não há suspensão da descrença ou crédito de plausibilidade que nos faça engolir aquele absurdo, estapafúrdio clímax na Grécia antiga, que mistura aviões e trirremes, nazis e soldados romanos, enquanto Indy demonstra uma resistência ao balázio que tem no corpo mais própria de um super-herói.

Steven Spielberg, George Lucas, James Mangold e Harrison Ford queriam sem dúvida que Indiana Jones, um dos mais lendários e bem-amados heróis do cinema, se despedisse em glória da imaginação colectiva dos espectadores, e saísse pela porta grande, e no melhor estilo, em Indiana Jones e o Marcador do Destino, o que só lhes fica bem. Mas não tiveram engenho nem arte para conceber uma última, arrebatadora e inesquecível aventura para o arqueólogo do chapéu e do chicote (há mais emoção no discurso de Harrison Ford quando recebeu a Palma de Ouro de Honra no Festival de Cannes, onde a fita teve antestreia mundial, do que nas duas horas e meia desta). E ele acaba por sair de cena cansado e pela porta das traseiras.

Elenco e equipa

  • Realização:James Mangold
  • Argumento:James Mangold, Jez Butterworth, David Koepp, John-Henry Butterworth
  • Elenco:
    • Harrison Ford
    • Mads Mikkelsen
    • Boyd Holbrook
    • Phoebe Waller-Bridge
    • John Rhys-Davies
    • Antonio Banderas
    • Thomas Kretschmann
    • Toby Jones
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