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Quando pertencia ao grupo de comédia francês Splendid, em 1978, Christian Clavier entrou no filme Barracas na Praia, de Patrice Leconte, escrito e interpretado pelos membros do mesmo Splendid, e onde interpretava um médico irritante que vai para férias à beira-mar. Mais de 40 anos depois, Clavier, que entretanto se transformou num dos mais populares actores cómicos de França, em boa parte graças aos seus papéis nas séries de filmes Os Visitantes e Astérix, personifica, em Ibiza, de Arnaud Lemort, uma personagem que tem parecenças com a de Barracas na Praia.
Ele é Philippe, um podólogo divorciado que namora com outra divorciada, Carole (Mathilde Seigner). Esta tem dois filhos adolescentes, um rapaz e uma rapariga, que passam o tempo agarrados aos telemóveis e desprezam e fazem troça do futuro padrasto. O grupo parte então de férias para Ibiza, onde Philippe espera poder cair nas boas graças dos seus dois futuros enteados, fazendo tudo para lhes agradar.
Se o citado Barracas na Praia ficou como um exemplo do que podia ser a boa comédia popular à francesa, Ibiza é um insulto à mesma. Parece que o cinema gaulês já não consegue mostrar serviço num género em que durante décadas foi exímio. Clavier repete o número de burguês quadrado, cheio de manias e constantemente perplexo perante o mundo moderno que já fez em comédias anteriores (Querida Mãezinha, Que Mal Fiz eu a Deus?, Não Incomodar), metido numa história que colecciona lugares-comuns, personagens básicas, piadolas de carregar pela boca e gags de deitar as mãos à cabeça (o final, em que uma família de ricaços ecologistas e arrogantes apanha um duche dos seus próprios excrementos, é particularmente lamentável). Ibiza é um filme impróprio até para ver em férias.
Por Eurico de Barros