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Sabem aqueles filmes americanos em que um grupo de liceais vai de férias para o interior do país ou então para a Europa, mete-se em vários sarilhos e tem as primeiras experiências amorosas? Pois Homem-Aranha: Longe de Casa, de Jon Watts, é um desses filmes, só que com uma história de super-heróis enxertada.
Nos primeiros 20 minutos, e depois de uma abertura a todo o gás, o espectador mais distraído ou menos familiarizado com as aventuras do Homem-Aranha poderá estranhar e pensar que entrou na sala de cinema errada, onde estão a passar um teen movie e não uma fita de super-heróis; ou que então o projeccionista trocou o disco em que vinha o filme, porque praticamente só se fala da viagem à Europa de Peter Parker, de MJ (Tom Holland e Zendaya repetem os seus papéis de Homem-Aranha: Regresso a Casa) e dos seus colegas de turma do liceu, e de como Peter pretende declarar o seu amor àquela no topo da Torre Eiffel.
Quando a turma chega a Veneza e se manifesta o primeiro monstro destruidor de cidades, o Elemental feito de água, e aparece um novo super-herói para o combater, Mysterio, que tem um capacete que parece um aquário virado do avesso (é interpretado por um Jake Gyllenhaal que vem injectar alguma circunspecção ao enredo), Homem-Aranha: Longe de Casa lá entra um bocado mais nos eixos das convenções e do espírito do género.
Temos assim, por um lado, que Peter quer gozar as suas férias europeias com MJ e os colegas sem ter que pensar nos EUA e nas suas responsabilidades de super-herói e de membro dos Vingadores (o filme passa-se após os acontecimentos de Vingadores: Endgame), e pedir finalmente namoro a MJ; e por outro, que perante a ameaça dos Elementais a uma série de grandes cidades da Europa,NickFury(Samuel L. Jackson) quer que Peter esqueça as férias, os amigos e MJ, vá a correr tirar o uniforme de Homem-Aranha da mala e venha ajudá-lo, e a Mysterio, a combater esta nova ameaça à humanidade, vinda de uma Terra paralela. E para convencer Peter, Nick tem para lhe dar, de parte de Tony Stark, um presente aliciante. Uma vez tudo estabelecido, e as linhas narrativas devidamente entrelaçadas, o filme entra em velocidade de cruzeiro. E mais não se pode dizer sobre ele, sob pena de se lançar um spoiler de potência nuclear.
O filme pretende manter a mesma mistura de humor descontraído e de acção arrasa-quarteirões que fez do anterior, Homem-Aranha: Regresso a Casa (estamos a excluir desta equação a longa-metragem animada Homem-Aranha: No Universo Aranha) um dos melhores da série. O realizador Jon Watts, no entanto, não consegue repetir a receita, em parte porque já não tem um vilão como o interpretado por Michael Keaton, mas também porque a história deste novo filme volta a contemplar o gigantismo ribombante e repetitivo evitado em Homem-Aranha: Regresso a Casa, que tinha uma dimensão muito mais leve e “humana” e punha travões à orgia de sequências empapadas em efeitos especiais. E é precisamente a esta rotina de espectacularidade mastodôntica que Homem-Aranha: Longe de Casa regressa.
Como já se tornou também rotina, a fita acaba a fazer uma “ponte” para a próxima aventura do Homem-Aranha, seguida de uma revelação inesperada sobre algumas das personagens. Em resumo: os fãs adorarão, os outros podem dispensar.
Por Eurico de Barros