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Este é mais um filme baseado em factos reais. Em 1962, Don Shirley, um culto e sofisticado pianista negro, foi em digressão pelo Sul dos EUA com o seu trio. E levou como motorista e guarda-costas Anthony Vallelonga, ou Tony Lips, segurança de clubes nocturnos de Nova Iorque e típico italo-americano do Bronx. E ficaram amigos até à morte de ambos, em 2013.
Peter Farrelly, um dos dois irmãos especializados em comédias grunhas como Doidos por Mary, recria esta digressão arriscada, e esta amizade improvável, em Green Book – Um Guia para a Vida, usando como modelo aqueles filmes que Hollywood fazia nos anos 50 e 60, para mostrar às pessoas que o racismo era uma coisa feia e elogiar a tolerância, o respeito e a compreensão entre os homens, independentemente da raça e do credo. Alguns desses filmes (muitos deles com Sidney Poitier) não ficaram datados, caso de Os Audaciosos, de Stanley Kramer, ou do excelente No Calor da Noite, de Norman Jewison. Outros, envelheceram depressa e mal, como Adivinha Quem Vem Jantar, do mesmo Stanley Kramer.
Green Book– Um Guia para a Vida está muito mais próximo de Adivinha Quem Vem Jantar do que de No Calor da Noite. É um misto de road movie e buddy movie, que pretende entreter enquanto dá – com traço grosso, grosas de clichés, algum paternalismo e a devida moderação política – uma lição de entendimento e convivência interracial. É um “Obama movie” em tempos de Donald Trump.
Desta bem-intencionada mas previsível, demonstrativa e estereotipadíssima viagem, com o inevitável final feel good, salvam- se Mahershala Ali no presunçoso mas angustiado Don Shirley, e Viggo Mortensen no desbocado e genuíno Tony Lips. A companhia é boa, embora a jornada seja uma seca.
Por Eurico de Barros