Desde que acabou a Saga Twilight, responsável pela sua saída do anonimato e transformação numa estrela junto do público mais jovem, que Robert Pattinson anda a fugir a sete pés dessa imagem que os filmes baseados nos livros de Stephenie Meyer lhe colaram.
Não o tinha conseguido até agora, apesar de ter entretanto entrado, entre outros, em dois filmes de David Cronenberg, num de Anton Corbijn e noutro de James Gray (vêm a caminho trabalhos com Claire Denis e Antonio Campos). Mas o seu encontro neste Good Time com os irmãos nova-iorquinos Josh e Benny Safdie – ou melhor, a sua colisão, dado pertencerem a mundos cinematográficos diferentes como o ovo e o espeto – proporciona a Pattinson o primeiro papel com sustância a sério e consistência dramática palpável, depois que se libertou do meloso mundo dos vampiros e lobisomens dos Twilight.
Passado numa Nova Iorque periférica e blue collar, ríspida e dura, a antítese da de um Woody Allen, e mais chegada ao cinema dos anos 60 e 70 do que ao de hoje, Good Time é a história de dois irmãos, tal como o era o autobiográfico Vão-me Buscar Alecrim (2009). Robert Pattinson interpreta Connie Nikas, que rouba um banco acompanhado pelo irmão Nick (Benny Safdie), que tem uma ligeira deficiência mental. O assalto corre mal e Nick acaba preso e metido num quarto de hospital, vigiado pela polícia.
Connie vai libertar o irmão, e Good Time deve ser de certeza o primeiro filme em que uma tentativa destas redunda na extracção da pessoa errada. Esta é uma história de amor fraternal e losers crónicos, uma versão indie, urbana, grunge e fatalista de Encontro de Irmãos. É que quanto mais faz para safar Nick, e depois para corrigir o erro cometido, mais Connie se afunda, numa inglória tentativa de contrariar mecanismos que já lhe ditaram o destino.
Rodado em 35 mm e com cores ásperas e berrantes por Sean Price Williams, e propulsionado pela banda sonora pulsante de Oneohtrix Point Never e Iggy Pop, Good Time é o melhor filme dos Safdie. E deixa-nos de água na boca para o próximo, Uncut Gems, passado no mundo da joalharia nova-iorquina em que o pai deles trabalhou. A família, mais uma vez.
Por Eurico de Barros