O cinema Búlgaro raramente aparece nas salas portuguesas, por isso, é de aproveitar quando um filme como Glória chega até cá. Os seus realizadores, Kristina Grozeva e Petar Valchanov, são já conhecidos de quem segue de mais perto as cinematografias do Leste da Europa. Deles, vimos recentemente A Lição, e em Glória, a dupla parece ter afinado os seus talentos, já que o novo filme está livre dos defeitos que mostrava naquele, nomeadamente um certo esquematismo narrativo e um excesso de zelo demonstrativo.
Em Glória, Grozeva e Valchanov continuam atentos à realidade quotidiana do seu país, introduzindo uma dimensão política que estava ausente em A Lição. O herói do filme é Tsanko Petrov, um honesto, humilde e gago trabalhador ferroviário que encontra uma pequena fortuna em notas na linha, e entrega o dinheiro à polícia. O ministro dos Transportes, que está envolvido num escândalo de corrupção, recompensa-o com um relógio novo, de má qualidade. Enquanto isso, a intratável directora de relações públicas do ministério perde o velho relógio de Petrov, que além de melhor que o novo, tem enorme valor estimativo.
Simultaneamente comédia dramática, sátira de contornos surreais à máquina estatal e ao seu desprezo pelo cidadão comum, e denúncia da corrupção pública, Glória merece a atenção de todos os que acham que o cinema não se reduz a filmes de super-heróis e a entretenimento anestesiante.
Por Eurico de Barros