Florence Foster Jenkins (1868-1944) era uma milionária que vivia em Nova Iorque e tinha sido uma menina-prodígio do piano até ficar inutilizada de uma mão. Era íntima de nomes como Toscanini e uma benfeitora generosa do mundo da música. Tudo normal e louvável, se Florence não vivesse na ilusão, alimentada pelo marido e pelos que a rodeavam, de que era uma grande diva lírica, quando a sua voz soava como um sortido de animais a ser torturados. E ninguém, por consideração, pena ou interesse, lho fazia notar. Além dos recitais particulares, onde acorriam nomes como Caruso e Cole Porter, Florence cantou uma vez no Carnegie Hall e gravou discos, pagos do seu bolso. Esta anti-Callas tornou-se numa figura de culto, aclamada por cantar tão cómica e consistentemente mal.
Em Florence, uma Diva Fora de Tom, Stephen Frears dá a Meryl Streep o papel de Florence Foster Jenkins, e isto é 90% do caminho andado para o filme vingar. Hugh Grant, no marido, e Simon Helberg (A Teoria do Big Bang) no pianista acompanhante de Florence, ajudam muito e bem. E Frears não cai no erro de só explorar o ridículo da figura para fins cómicos, contando a história da senhora com uma margem de simpatia que o espectador acaba também por partilhar.
Eurico de Barros