É um mundo de contrastes. Um mundo sem alternativa. Um mundo em que a adaptação às circunstâncias é uma forma de sobrevivência.
A vida de Félicité (a estreante e muito impressionante Véro Tshanda Beya Mputu) vai dar um grande volta quando o filho adolescente tem um desastre de moto, vai parar ao hospital, e esta cantora de cabaré, em Kinshasa, descobre que tem de pagar um balúrdio de dinheiro que não tem pela operação. Adaptando- se, como de costume, a protagonista acaba por aceitar o auxílio oferecido por Tabu (Papi Mpaka), que ainda vai arranjando os distúrbios crónicos do frigorífico da cantora e se torna seu amante, o que é fonte de tanto prazer como de perturbação.
Alain Gomis, no seu quarto filme, além de transportar uma influência clara dos irmãos Dardenne, prossegue o seu caminho de cineasta em busca de uma identidade cultural, explorando, em jeito de realismo social e ao ritmo bamboleante da pop africana, as ruas da capital da República Democrática do Congo, o que faz do filme uma obra estimulante, embora algo condescendente.
Por Rui Monteiro