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Como a música de Caetano Veloso, os livros de Jonathan Franzen ou os talentos naturais de Giselle Bundchen, Evolução é um filme com qualidades evidentes mas que me deixa frio. Esta segunda realização de Lucile Hadzihalilovic é uma boa realização, a artista é uma boa artista, e ainda assim a coisa não tem grande interesse. No fim, a minha reacção foi de reconhecimento (não sou cego) indiferente (não sou de ferro).
Numa ilha algures na costa francesa, mulheres solteiras tomam conta de um grupo de rapazes. Nenhum deles tem pai e aliás não há homem algum à vista. Durante o dia, os rapazes vão nadar. À noite, as mães (que não o são) dão-lhes a comer uma mistela com tinta de chocos e depois ainda lhes dão uma segunda mistela, esta através de injecções, para eles dormirem.
Um dia, Nicolas (Max Brebant), um dos miúdos, consegue não tomar a sua dose e escapa-se da casa onde vive com a sua “mãe” (Julie-Marie Parmentier). Este é o ponto de partida de Evolução, filme de terror abstracto e impassível, feito de imagens de terra e mar e movimento e silêncios prolongados. Isso e uma ou duas ideias peculiares, envolvendo os rapazes, sobre a maternidade. Ou por outra: história - engenhosa; ponto de vista - tanto quanto conseguimos perceber, original; imagens - altamente elaboradas e frequentemente belas. Conclusão - OK, e daí?
É sempre claro que a autora teve um trabalho imenso com tudo isto , mas falta aqui um elemento essencial - fica tudo no ecrã e de lá não sai para a cabeça do espectador. Evolução é de uma habilidade e uma beleza esfíngicas. Em suma, um anúncio bem produzido e completamente vazio da estética e das manias de Hadzihalilovic.
Nuno Henrique Luz