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Esquadrão Suicida é um filme de super-heróis e podemos discutir se a inflação de filmes de super-heróis nos últimos anos representa uma infantilização do público a reboque de Hollywood ou de Hollywood a reboque do público ou, pelo contrário, nada disso, é apenas um género que sempre existiu e que está conjunturalmente por cima como em tempos estiveram o filme negro, as epopeias bíblicas ou as aventuras de capa e espada. O que não podemos é pedir aos filmes de super-heróis que sejam outra coisa que não filmes de super-heróis.
Dito isto, há um caso sólido a favor dos filmes de super-heróis. Embora venham dos livros de banda desenhada, aquilo que faz de um super-herói um super-herói foi feito para o cinema. O movimento a desafiar as leis da física, os poderes sobrenaturais, as capas e as máscaras dramáticas, a par de uma capacidade extraordinária tanto para manter a ordem como para causar desordem – enfim, uma atitude geral acima de todos os limites conhecidos e aceites – faz deles criaturas propriamente visuais e cinematográficas.
Mais, não é indispensável que os super-heróis sejam heróicos, na acepção comum do termo. Tanto podem defender a sociedade dos homens e mais amplamente o planeta como podem agir por puro egoísmo, traumas de infância ou ressentimentos antigos. Destiladas à sua essência, as motivações de Batman, do Super-Homem e do Homem-Aranha não andam muito longe disto.
Como qualquer talento ou traço de personalidade, os poderes especiais podem ser um destino, uma agradável surpresa ou (como em Hulk) um peso terrível. Também normalmente só percebem que têm super-poderes na adolescência – altura em que se descobre a sexualidade, coincidência demasiado habitual nas histórias de super-heróis para ser coincidência.
Parte do que faz dos super-heróis super é serem uma parte de nós em grande escala. Nada do que é humano me é estranho, diz a frase clássica do poeta romano Terêncio. Um bom super-herói convence-nos, durante as duas horas do filme, que nada do que é sobrehumano nos é estranho.
Tudo isto para dizer que Esquadrão Suicida tem mais interesse – digamos, tem mais piada – do que à partida poderão pensar os não-convertidos ao género. O filme conta a história de um grupo de super-bandidos recrutados por uma unidade secreta do governo americano, aqui representado em grande estilo por Viola Davis, para combaterem ameaças ainda piores do que eles, em troca do perdão das penas.
Will Smith (interpreta Deadshot, assassino e infalível com uma arma) é nominalmente a figura principal, mas na prática faz de Will Smith com uma farda diferente. Acima estão Margot Robbie como Harley Quinn, uma antiga psiquiatra que perdeu o juízo e a paciência para o seu semelhante mas não o sentido de humor; e Jared Leto como Joker – um Joker com a novidade de ser punk mas a necessária maldade frenética. O Batman de Ben Affleck – mais exactamente, o queixo de Ben Affleck como Batman - faz também uma curta mas divertida aparição.
David Ayer escreveu e realizou, e se na primeira meia hora – quando faz a apresentação de cada personagem – ainda deixou o seu publicitário interior controlar a câmara e a montagem, daí para a frente deu-lhe rédea curta, o que torna o filme, em algumas passagens, sim, super.
Nuno Henrique Luz