Os nazis chegam a Paris, um homem tenta partir. À falta de melhor, assume a identidade de um escritor que entretanto se suicidou e de quem possui os documentos de identidade. Mas fica retido em Marselha, semanas à espera de um barco para o México. É então que encontra Marie, a mulher do homem a quem Georg roubou a identidade, ignorante da morte do marido que busca. Todavia, são outros os encontros que definem Em Trânsito.
Posto assim, em jeito de sinopse, parece simples, mas o argumento de Christian Petzold, a partir de um romance de Anna Seghers, é mais do que uma adaptação e ainda mais do que uma história de fuga, pois o realizador, com muita habilidade, embora de maneira por vezes desnecessariamente complicada, constrói uma obra onde o passado e o presente se confundem. Melhor: convivem, quase em paralelo, política e esteticamente. Isto é: colocando fugitivos antifascistas e refugiados norte-africanos no mesmo lugar no meio desta história que também é de culpa e procura de redenção, Petzold faz de Marselha um limbo, uma variedade de Purgatório intertemporal de onde uns querem fugir e outros desesperam por entrar – no processo fazendo brilhar a interpretação de Franz Rogowski.
Por Rui Monteiro