[title]
Têm uma certa razão as actrizes americanas na terceira idade quando se queixam que o cinema já não tem papéis suculentos para elas. É o que se constata em Em Do Jeito que Elas Querem, de Bill Holderman, onde Diane Keaton, Jane Fonda, Candice Bergen e Mary Steenburgen interpretam quatro amigas bem instaladas na vida que formaram um clube do livro nos anos 70 e encontram-se uma vez por mês para discutir as obras e beber vinho.
A leitura de Cinquenta Sombras de Grey leva-as a querer animar e apimentar as suas mortiças (ou mesmo inexistentes) vidas sentimentais e sexuais. A personagem de Keaton enviuvou recentemente e está tentada a ir viver com as filhas no Arizona, a de Fonda é a rica dona de um hotel de luxo e está habituada a relações breves e sem compromissos, a de Candice Bergen é uma juíza divorciada de longa data que vive com um gato e nunca sai à noite, e a de Steenburgen, a única casada, quer que o marido corresponda mais e melhor aos seus desejos.
O filme fá-las ser cortejadas por um piloto da aviação civil (Keaton), andar à procura de par em sites de encontros da internet (Bergen), reencontrar uma velha paixão (Fonda) e meter viagra na cerveja do marido (Steenburgen).
Obviamente, as quatro veteranas actrizes interpretam os seus papéis com uma perna às costas e a pensar como é que vão gastar o dinheiro dos cachets. Isto porque o argumento desta comédia feel good e peso-pluma, escrita pelo realizador e pela também actriz Erin Simms, pouco mais lhes dá para fazer do que meia-dúzia de situações cómicas ligeiras, ligeirinhas (Diane Keaton é surpreendida pelas filhas e pelo genro agarrada ao namorado numa piscina, Candice Bergen tem dificuldade em comprar um vestido sexy para usar num encontro com um homem, etc.), e uma série de tiradas cheias de metáforas, sugestões maliciosas ou implicações de carácter sexual.
É o caso da sequência em que o marido da personagem de Steenburgen (interpretado por Craig T. Nelson) discorre sobre a motorizada vintage que está a restaurar, sem perceber as analogias sobre a sua falta de comparência sexual que a mulher e as três amigas estão a fazer a partir do seu discurso muito técnico.
Para accionar este inofensivo humor de vertente eréctil e tintas malandrecas, que não faria corar uma freira, nem sequer era preciso que as quatro protagonistas tivessem lido a trilogia de E.L. James (que faz uma brevíssima aparição como vizinha do casal Steenburgen/Nelson.)
Coadjuvando as heroínas, e além de Craig T. Nelson, surgem Andy Garcia, Don Johnson e Richard Dreyfuss, que têm ainda menos para fazer do que elas. Não vem nenhum mal ao mundo de Do Jeito que Elas Querem, mas Keaton, Bergen, Fonda e Steenburgen mereciam muito mais do que esta comédia com todo o picante e toda a ousadia de confecção de uma canja de galinha.
Por Eurico de Barros