Foi preciso um realizador escocês (David Mackenzie) ir filmar ao Texas para podermos ver um filme americano como deve ser. O melhor elogio que podemos tecer a Custe o que Custar é que parece ter sido rodado nos anos 70 e não agora. Melhor: a fita passa-se no nosso tempo, tem todo o aspecto de ser da década de 70 (por exemplo, o veterano Texas Ranger interpretado por Jeff Bridges não se cansa de dizer piadas étnicas ao seu parceiro, que é meio índio, meio mexicano) e é na realidade um western crepuscular e desencantado disfarçado de história contemporânea.
Escrito – e que bem escrito! -, por Taylor Sheridan (Sicario-Infiltrado), o filme tem Chris Pine e BenFoster no papel de dois irmãos, um bom e desempregado, Toby, o outro, Tanner, delinquente contumaz. Andam a assaltar pequenos bancos para poderem pagar no prazo limite ao banco cujas filiais roubam, a dupla hipoteca do rancho da mãe, que morreu há pouco. É que foi descoberto petróleo no rancho, eTobytransformou a propriedade num fundo para garantir o futuro dos filhos – daí o recurso ao crime para não a perder.
Os irmãos são perseguidos por Marcus Hamilton, o Texas Ranger à beira da reforma personificado por Bridges, e parte do prazer do filme consiste em vê-lo habitar a personagem, com o seu jeito de urso velho e a sua perspicácia expressa numa verbalidade castiça. Não há um cliché à vista, o argumento está repleto de diálogos, personagens secundárias, situações e tiradas inesperadas, insólitas ou divertidas (“Estive a ver um tipo roubar um banco que me rouba há 30 anos”, diz a testemunha de um dos assaltos) e Mackenzie filma com uma limpeza e um músculo que dão gosto.