Gaspar Noé, o realizador por excelência do excesso, do extremo e do conceito retorcido do cinema francês, volta a atacar com Clímax. E desta vez, estatela-se ao comprido e parte-se todo. Um grupo de jovens bailarinos e bailarinas contratados por uma coreógrafa de renome para uma digressão, fecha-se por alguns dias num sítio isolado, em pleno Inverno, para ensaiar. Os jovens dançam, flirtam, falam de sexo (alguns, de forma boçalmente detalhada), comem e bebem, dois ou três snifam coca. Um deles – só no final sabemos qual – pôs LSD na sangria. O inferno instala-se e não há como fugir, porque lá fora ruge uma tempestade de neve. Imaginem um dance movie ao som contínuo de música techno e house em que os bailarinos, depois de um primeiro momento de trabalho afincado e convívio normal, entram em parafuso por causa do LSD e começam, num frenesim como que de possessão demoníaca (no início da fita, chegamos a pensar que Noé vai entrar pelos caminhos do terror sobrenatural e tornar Clímax num Suspiria trashy e baratucho) a fazer as piores coisas possíveis e imagináveis uns aos outros, num clima de histeria visual e sonora. Com isto, fica-se com uma pequena ideia daquilo que é Clímax e do tipo de agressão cinematográfica e sonora, e de paroxismo colectivo massacrante, a que o espectador é submetido e feito testemunha.
A câmara do realizador parece apostada em contrariar uma mão-cheia de leis da física, Noé pisca o olho a Irreversível ao começar o filme pelo fim (com ficha técnica e tudo) e de vez em quando mete uns intertítulos abstrusos. E tudo isto para absolutamente nada, exceptuando a irritante indisposição com que deixamos a sala de cinema.
Por Eurico de Barros