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Não é um documentário etnográfico didáctico e neutro, não é uma ficção indigenista, daquelas que ou trazem uma mochila paternalista ou um lastro militante. Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos não cabe numa definição específica. E com as devidas distâncias, evoca, na forma e no método, o trabalho de um Robert Flaherty. Solidamente integrados na comunidade dos índios brasileiros Krahô, João Salaviza e Renée Nader Messora rodaram, com verdade, fluência e desafectação, um filme que regista um dos mais importantes rituais daquela tribo, o do luto por um dos seus membros; ao mesmo tempo, aliam a esta faceta documental outra mais ficcional. Esta acompanha o jovem Henrique Ihjãc Krahô, filho do morto, que sai da aldeia onde tem mulher e filho, por não conseguir chegar a termos com o luto do pai nem apaziguar a dor da perda, que deixa o espírito dele sem descanso. Através da sua fuga para a vila, o filme dá-nos também um relance da situação dos índios no Brasil, postos entre o apelo da assimilação e a fidelidade possível ao seu modo de vida tradicional.
Por Eurico de Barros