Há toda uma filmografia muito desigual sobre romances, em geral estivais, em que uma mulher mais velha e experiente inicia no amor e no sexo um rapaz mais novo, seguindo-se uma separação dolorosa e a certeza que nenhuma das partes envolvidas jamais esquecerá a experiência. Sobretudo a mais jovem. Verão de 42, de Robert Mulligan, é um dos melhores exemplos destes coming of age movies, que são ora mais recatados, ora mais tórridos, caso de Pecado Venial, de Salvatore Samperi, ou All Things Fair, de Bo Widerberg.
Chama-me Pelo Teu Nome, do italiano Luca Guadagnino (Eu Sou o Amor, Mergulho Profundo), que adapta um livro de André Aciman e tem argumento de James Ivory, o realizador de Quarto com Vista para a Cidade ou Regresso a Howard’s End, inclui-se de caras neste subgénero. Com a única diferença de contar um romance gay e não heterossexual.
Estamos em Itália, no início dos anos 80. Elio (Timothée Chalamet) é um rapaz de 17 anos, inteligente, sensível, tímido e com talento músical, que está a passar as férias na mansão de campo da família. O pai, professor de Arqueologia, escolhe todos os Verões um finalista universitário para o ajudar nos seus projectos. E assim entra em cena o belo e atlético americano Oliver (Armie Hamer). Elio começa por embirrar com ele e ter ciúmes da sua popularidade imediata com o pai e a mãe, as raparigas e a gente local, mas pouco a pouco, começa a esboçar-se uma atracção entre ambos.
Fotografado pelo tailandês Sayombhu Mukdeeprom, colaborador de Apichatpong Weerasethakul e que trabalhou com Miguel Gomes em As Mil e Uma Noites, Chama- -me Pelo Teu Nome é muito evocativo, na visualidade idílica, na sensualidade estival e no erotismo oblíquo mas omnipresente, de Beleza Roubada, de Bernardo Bertolucci (sobre o qual Guadagnino já fez um documentário).
No entanto, se excluirmos a natureza da relação central da história, que Luca Guadagnino filma sem forçar a nota da carnalidade explícita, Chama-me Pelo Teu Nome mais não faz do que recensear languidamente os lugares comuns visuais, sentimentais e sensuais do formato, com alusões óbvias à dimensão apolínea da cultura clássica grega e algum simbolismo desastrado (a cena da masturbação com o pêssego).
O filme também sofre com a inadequação de Armie Hamer, com o seu ar de jogador de futebol americano burro, ao papel do intelectual Oliver, que lê Heidegger, ouve Bach e sabe etimologia árabe, e com a imensa tolerância dos pais de Elio, mais própria dos nossos dias do que dos anos 80. Tudo considerado, não há nada de muito novo sob o sol italiano.
Por Eurico de Barros