Homens hirsutos vestidos com pulôveres pesados, rebanhos de carneiros, concursos de carneiros, carneiros por toda a parte. Glamour é palavra desconhecida neste filme do islandês Grímur Hákonarson, porque o que interessa aqui é a autenticidade. E nesse particular, está-se mais do que servido.
O realizador não podia ser mais fiel à realidade da Islândia rural ao filmar esta história de dois irmãos criadores de carneiros e vizinhos, que estão de candeias às avessas há 40 anos. Mas uma doença contagiosa que leva ao abate forçado de todos os animais da região vai obrigar os irmãos a mudar de atitude.
Emparelhando humor seco e drama lacónico, Hákonarson conta duas histórias tão cerradamente entrelaçadas como a vida dos criadores de carneiros islandeses e a dos seus animais. A do reacender do amor fraternal por causa da fatalidade que atinge os dois protagonistas e a sua comunidade; e a de um modo de vida milenar dependente dos carneiros, económica, social e culturalmente moldado por eles.
Carneiros é um filme islandês até à raiz da lã dos animais e dos pêlos das barbas das personagens, mas com uma ressonância universal que lhe permitiu ser um sucesso em países tão diversos – inclusive na importância da ovinocultura –, como a Austrália, o Irão ou a Polónia.
Eurico de Barros