Um camião de transporte de mercadorias cheio de emigrantes clandestinos de Leste, um condutor (Vítor Norte) com problemas de consciência, mas que tem uma mulher e uma neta para alimentar, um mafioso russo (Dmitry Bogomolov) que chefia a rede de tráfico humano e que mata por dá cá aquela palha, um punhado de mulheres cujo destino é a prostituição.
Se em Carga, primeira longa-metragem do português Bruno Gascon, o cinema estivesse à altura das nobres intenções humanitárias que ostenta de forma enfática, laboriosamente expostas no enredo e declinadas na ficha técnica final, no caso de o espectador ainda não ter percebido, este seria um filme perfeitamente aceitável. Tal como se nos apresenta, é uma repetitiva, maçuda e interminável colecção de clichés, personagens-tipo ou ridículas e situações mal desenhadas e resolvidas, com um final de bradar aos céus.
Na sua tentativa de dramatização do tema do tráfico humano, Carga mostra-se incapaz de ir mais longe do que alinhar banalidades e pôr em cena estereótipos ambulantes, e falha como thriller e como libelo. É mais um título descartável para ir arder no inferno do cinema das boas causas.
Por Eurico de Barros