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Tal como nos filmes anteriores, documentários e ficções, os libaneses Joana Hadjithomas e Khalil Joreige evocam, em Caixa de Memórias, a guerra civil dos anos 80 no seu Líbano natal e os efeitos que esta ainda continua a ter nos compatriotas e no país. Alex, uma adolescente, vive em Montreal com a mãe e a avó, que deixaram o Líbano durante o conflito, após terem perdido vários entes queridos. Um dia, no Natal, chega de Beirute uma caixa cheia de objectos do passado, diários, cadernos, fotos e cassetes áudio (alguns pertencentes à própria Hadjithomas, que inseriu elementos autobiográficos no enredo), que muito perturbam a mãe de Alex e cujo significado ela não quer partilhar com a filha. Esta vai investigar sem o consentimento da mãe, e descobre a tragédia que atingiu a sua família e está associada à tragédia maior do ainda hoje martirizado Líbano. Saltitando entre passado e presente, lançando mão de filmes de 8 e 16 mm, de velhas fotos e da animação digital com justeza formal, pertinência no contar e eficácia emocional, e pondo em cena um bom e coeso conjunto de actrizes, Hadjithomas e Joreige rodaram um drama intergeracional dorido e comovedor, melancolicamente patriótico e intensamente sentido, mas nunca choramingas ou ideológico. Caixa de Memórias lembra-nos também que o Líbano e os libaneses estão muito longe de voltar aos anos de paz e prosperidade pré-guerra civil.