Ao longo da sua carreira, Bucha e Estica fizeram três digressões pela Grã-Bretanha: a primeira em 1947, a segunda em 1952 e a terceira em 1953-54. Não foram tempos especialmente fáceis para eles.
Os dois cómicos estavam então na casa dos 60 anos, tinham problemas de saúde (em especial o Bucha), e os seus dias de glória no cinema, primeiro nos estúdios de Hal Roach, depois na Fox e na MGM, haviam já passado. A sua popularidade já não era a mesma desses anos de ouro, entre a década de 20 e o início da II Guerra Mundial.
Estas digressões eram a principal forma de Stan Laurel e Oliver Hardy ganharem dinheiro, já que não recebiam um centavo de direitos dos seus filmes – em especialos feitos para Roach – que estavam a ser constantemente exibidos na televisão americana. (Tinham sido discordâncias sobre dinheiro que os levaram a abandonar Hal Roach. Este, no entanto, havia ficado, contratualmente, com a propriedade de todas as fitas que Bucha e Estica rodaram para ele).
Bucha e Estica, de John S. Baird, apanha-os durante a digressão de 1953-54, tendo também elementos da que fizeram em 52. John C. Reilly interpreta Oliver Hardy e Steve Coogan é Stan Laurel.
A história explora o velho tema do crepúsculo do actor cómico (no caso, dois actores cómicos), e Baird toma algumas liberdades, para fins dramáticos e de efeito emocional, com o estatuto de Bucha e Estica na altura em que a acção decorre.
Eles foram recebidos entusiasticamente pelo público britânico desde a primeira hora, e não apenas depois de terem começado a aparecer em eventos de publicidade aos seus espectáculos, como o filme mostra, nem chegaram a actuar em teatros de segunda ordem, com pouco público.
O enredo de Bucha e Estica é de uma linearidade previsível. Stan e Ollie passam por algumas humilhações em palco antes de se autopublicitarem e passarem a actuar nos teatros de primeira categoria; Stan farta-se de trabalhar no filme que supostamente irão fazer, passado no tempo de Robin dos Bosques, enquanto Ollie gasta dinheiro a apostar nos cavalos; as mulheres de ambos chegam dos EUA e não param de implicar uma com a outra; e a certa altura, os dois amigos zangam-se, Ollie sente-se mal em público e decide regressar aos EUA, deixando Stan a actuar sozinho; mas à última da hora, faz das tripas coração e junta-se a ele no palco, levando triunfalmente a digressão até ao fim.
Ou seja, Bucha e Estica repousa inteiramente nos ombros de John C. Reilly e Steve Coogan. Que fizeram o seu trabalho de casa, e os interpretam com uma minúcia, uma fluência e uma autenticidade magistrais, sem por uma vez que seja parecer que os estão apenas a macaquear, transmitindo também a quase sobrenatural sintonia cómica que havia entre ambos, e a imensa cumplicidade e amizade que os unia. Depois da morte de Ollie, em 1957, Stan continuou a escrever material como se ele ainda vivesse e a parceria existisse.
Reilly e Coogan não se esquecem também de outro aspecto importante: a humildade, a lhaneza e a cortesia que caracterizavam os dois parceiros e amigos. (Até morrer, Ollie teve o seu número na lista telefónica de Los Angeles, e atendia chamadas dos fãs, ficando muitas vezes a conversar com eles.) Bucha e Estica é fiel ao génio cómico como às personalidades simples e bonómicas de Stan e Ollie.
Por Eurico de Barros