O aspecto nunca foi grande coisa. Aquele chapéu de feltro à banda, o ar engordurado. E do temperamento, das companhias... É melhor nem falar. Mas não se deve julgar pelas aparências, que estas iludem, e, no caso de Joseph Beuys, escondiam um artista, mais de 30 anos depois de morrer, ainda capaz de causar uma boa controvérsia.
Andres Veiel passou muito para lá da capa enxovalhada e escavou a história do fundador do grupo Fluxus que explorou o happening, a performance e a instalação, com tempo ainda para desenvolver um trabalho de teórico e de pedagogo assinalável. Mestre de uma arte que não descurava o debate social nem a intervenção; incapaz de impedir que essas tensões se reflectissem na sua obra, Beuys foi um visionário. De certo modo continua a ser, pois mesmo através da inúmera documentação recolhida, o retrato traçado por Veiel abre mais caminhos à discussão sobre o papel da arte no mundo contemporâneo do que apresenta qualquer conclusão – como se o artista permanecesse um mistério.
Por Rui Monteiro