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De Dupla Traição, de Robert Siodmak (1949), a O Condutor, de Walter Hill (1978) e Drive – Risco Duplo, de Nicolas Winding Refn (2011), os heist movies, ou “filmes de assalto”, sempre destacaram a figura do condutor do carro do golpe e da fuga. Costuma ser uma personagem sobredotada do volante, lacónica, solitária e com um código de conduta muito próprio, que criou a sua própria mitologia dentro deste subgénero do policial de acção.
O novo filme do inglês Edgar Wright (Shaun of the Dead, Hot Fuzz) é um pastiche pop, auto-referencial e laborioso de um heist movie, cujo título, além de uma canção de Simone Garfunkel, dá também o nome artístico ao condutor do bando liderado pelo veterano Doc (Kevin Spacey), Baby. Este anda sempre de fones postos a ouvir música, por sofrer de tinido, um zumbido permanente nos ouvidos, desde o desastre em que os pais morreram, era ele pequeno e ia no banco de trás do carro.
Tal como o jovem, monossilábico e vácuo Ansel Ergot o interpreta, Baby é menos uma personagem do que um conjunto de tiques, poses e adereços cool (iPod, óculos de sol), tão postiça e tão laboriosamente construída como esta fita que arma ao pingarelho de confecção clássica, quando é composta na verdade de aditivos, corantes e emulsionantes, desde as personagens de caracterização e lábia sub-tarantinesca, até às perseguições automóveis espalhafatosas e à ultraviolência informal.
A banda sonora é a própria selecção de músicas que Baby ouve, uma maneira de Edgar Wright mostrar que tem muitos disco sem casa, tal como alardeia em Baby Driver – Alta Velocidade que viu muitos filmes destes. Para o caso, e em ambos os departamentos, tanto faz como fez.
Por Eurico de Barros