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Baseando-se no livro homónimo de David Grann, Martin Scorsese (que também assina o argumento, com Eric Roth) conta, no seu novo filme, uma sinistra e sangrenta história real, passada nos anos 1920, no interior dos EUA. A dos misteriosos assassínios de membros da tribo Osage, no Oklahoma, após terem sido descobertas grandes jazidas de petróleo nas suas terras, que transformaram muitos deles em milionários. Entre as vítimas estavam várias mulheres índias que entretanto tinham casado com brancos da região. Os crimes deram origem a uma investigação lançada pelo recém-formado FBI, que descobriu um plano encabeçado por William Hale, um rico rancheiro, mancomunado com agentes da lei, homens de negócios, advogados e médicos, para matar os Osage (inclusive por envenenamento) e ficar-lhes com os direitos da exploração do petróleo e o dinheiro. Deste enredo de inveja, ganância, corrupção e amoralidade, Scorsese tira um filme incaracteristicamente maçudo e arrastado, demonstrativo e maniqueísta, sem faísca dramática, complexidade moral ou vigor cinematográfico, uma estopada entorpecente incapaz de justificar as suas três horas e meia de duração. Exceptuando Lily Gladstone no papel da índia Mollie, os actores, com Robert De Niro e Leonardo DiCaprio à cabeça, são metidos em personagens rasas e primárias e deixados a fazer caretas entre dois assassínios, e não há sequer papéis secundários dignos de nota. O Martin Scorsese dos seus dois brilhantes filmes anteriores, Silêncio (2016) e O Irlandês (2019), igualmente muito longos mas ricos em convulsões dramáticas, dilemas de consciência, tensão narrativa, personagens envolventes e em cinema, parece ter-se ausentado para parte incerta em Assassinos da Lua das Flores.