Desde os seus primeiros filmes, datados de finais do século passado, que Jia Zhangke se impôs como um dos mais consistentes e talentosos atentos, cronistas das alterações que transformaram a China numa superpotência, e do efeito que tiveram sobre a sociedade, a paisagem, os modos de vida e as pessoas.
Este é o tema de praticamente todas as suas fitas desde Going Home (1995), e Pickpocket (1997) mas Zhangke liga-o sempre a histórias humanas, colectivas ou individuais, numa compaginação que resulta em benefício mútuo.
Passado entre 2001 e a actualidade, As Cinzas Brancas Mais Puras desenvolve-se num quadro narrativo que comunga do policial e do melodrama, e cujos protagonistas, Bin, um mafioso (Fan Liao) e a namorada,Qiao (Tao Zhao, mulher do realizador e sua actriz de eleição) vêem as vidas truncadas pelas aceleradas modificações do seu país. Mas a tenaz Qiao, que fez uma pena de prisão por Bin, não desiste de reconquistar o homem que forças globais muito poderosas mudaram, e afastaram dela.
O realizador revisita aqui locais onde ambientou alguns dos seus filmes anteriores, e nunca deixa que a grande história do país em transformação se sobreponha à história particular das personagens.
Por Eurico de Barros