[title]
Clara (Sónia Braga) é uma jornalista musical reformada, sobrevivente de um cancro da mama, última inquilina do edifício no Recife, situado à beira da praia, cujo nome dá o título a este filme de Kleber Mendonça Filho. O velho prédio está na mira da especulação imobiliária. A empresa que quer construir um novo no seu lugar já ofereceu uma pequena fortuna a Clara para ela sair. Mas ela recusa-se a abandonar o lugar onde cresceu, criou a família e tem todas as suas memórias, mesmo que até alguns dos filhos a tentem convencer a ir embora.
Aquarius deu que falar no Festival de Cannes, onde esteve em competição, em parte por realizador e actores terem feito um muito mediatizado protesto público contra o processo de destituição da presidente Dilma Rousseff, que então decorria no Brasil. Mendonça Filho até traçou um paralelo entre a personagem de Clara e Dilma, ambas vítimas de forças malignas.
Política à parte, Aquarius é uma relativa decepção, sobretudo quando comparado com o filme anterior do realizador, O Som ao Redor (2012). Onde este jogava com a subtileza, a elipse, as meias-tintas, para mostrar o sentimento de insegurança de uma classe média “cercada” nos seus bairros, em Aquarius tudo é óbvio, transparente, maniqueísta, telenovelesco, com uma heroína pronta-a-aplaudir, uma situação narrativa pronta-a-indignar e um vilão pronto-a-execrar. Fica a interpretação de Sónia Braga a segurar tudo.