A violência da cena inicial de Amor em Tempos de Ódio é uma introdução perturbadora ao que está para vir. Aquelas imagens desfocadas, filmadas por uma vedação de rede, afirmam como este é filme sem inocentes nem prisioneiros, e induzem simbolicamente como, nesta crua ficção da vida, tudo é sempre mais do que parece. Mesmo se o que parece é uma versão de Romeu e Julieta, via West Side Story.
Seria bastante mais fácil arrumar tudo se o argumento fosse mais uma das muitas inspirações shakespearianas que translada para Bruxelas a tragédia do casal de Verona e a disputa sentimento-territorial dos gangues nova-iorquinos. Todavia, mais do que o romance entre um meliante marroquino e uma meliante congolesa contrariado pela sua filiação em quadrilhas rivais, mais até do que a violência que os gangues de adolescentes exercem na capital belga aplicando os seus primários códigos de honra, da realização - infelizmente de maneira ligeira – subjaz o condicionamento grupal e o sexismo como elementos fundamentais da mentalidade de gangue. O que apesar de tudo é uma maneira estimulante de abordar um problema real, embora não dispense uma dose de condescendência.
Rui Monteiro