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Um homem atira uma moeda para a piscina em que o filho pequeno está a nadar, e diz-lhe que pode ficar com ela se a conseguir ir buscar. O miúdo apanha a moeda e depois queixa-se ao pai que é pouco dinheiro. O pai responde-lhe: “Pouco dinheiro? Olha que custou muito ao teu pai a ganhar.”
O pai em questão é nada mais, nada menos, do que Pablo Escobar, o poderoso, brutal e multimilionário chefe do cartel de droga de Medellín; e a irónica cena faz parte de Amar Pablo, Odiar Escobar, do realizador espanhol Fernando León de Aranoa (Às Segundas ao Sol), baseado no livro da jornalista vedeta colombiana Virginia Vallejo, que nos anos 80 se deixou fascinar pelo barão da droga e se tornou sua amante.
O filme é um projecto pessoal de Javier Bardem, que o produz e interpreta Escobar com um impecável sotaque colombiano e uma ampla pança, dando o papel de Virgina à mulher, Penélope Cruz, que tem uma interpretação desastrosa, variando entre o registo de beldade e “famosa” tolinha, e o de latina histérica. Felizmente, a fita, mesmo sendo narrada por ela, passa mais tempo com Escobar, a sua família e os capangas, do que com a superficial e insofrível Virginia.
O cinema e a televisão têm minerado intensamente a figura e a história de Pablo Escobar, em séries como Narcos, de José Padilha, e a colombiana Pablo Escobar: El Patrón del Mal, ou em filmes como Escobar: Paraíso Perdido, com Benicio Del Toro, e outros em que ele surge apenas como personagem secundária – ver Profissão de Risco, de Ted Demme.
Há muito pouco em Amar Pablo, Odiar Escobar que não saibamos já, quer dos muitos documentários rodados sobre o falecido barão da droga, quer de séries e fitas como as referidas. Ficamos com um filme seguro e escorreito, que entretém sem deixar recordações de maior. E que só é prejudicado pelo facto de, por óbvias razões comerciais, as personagens principais se exprimirem quase sempre em inglês torturado ou em “espanglês”.
Por Eurico de Barros