Antes de mais, convém pôr em dia a cronologia da saga Alien. Este Alien: Covenant de Ridley Scott, passa-se em 2104, dez anos depois dos acontecimentos de Prometheus, e 20 anos antes dos de Alien – O 8o Passageiro, e é o primeiro filme de uma nova trilogia que irá desembocar neste, em estilo pescadinha de rabo na boca (ou, mais apropriadamente, de alien de rabo na boca).
Scott disse que o seu propósito ao realizar Alien: Covenant era, basicamente, “pregar um susto do caraças” aos espectadores. E para fazer isso, regressou às origens narrativas e subiu a parada. Vários aliens à solta (incluindo o Xenomorfo, regressado a pedido de muitas famílias) dizimam a tripulação de uma nave (a Covenant do título), agora já não apenas dentro desta, mas também ao ar livre, num planeta aparentemente paradisíaco e capaz de sustentar vida humana e o estabelecimento de uma colónia, mas que se revela ser um sítio de destruição e morte.
Uma vez nesse planeta, os tripulantes da Covenant descobrem o que aconteceu à sobrevivente humana de Prometheus, a Dra. Elizabeth Shaw (Noomi Rapace). É que também há um sobrevivente sintético, David, o andróide (que também aparece em flashback no início da fita, a falar com o seu criador, David Weyland, bastante mais jovem do que surge em Prometheus). Uma das novidades de Alien: Covenant é precisamente a existência de dois andróides semelhantes como gotas de água e igualmente impassíveis. O citado David, que entretanto desenvolveu um inquietante complexo de demiurgo e cita Shelley pensando que está a citar Byron, e Walter, que faz parte da tripulação da Covenant e é um modelo mais aperfeiçoado e asimoviano do que aquele, desempenhando ambos papéis decisivos no enredo.
Michael Fassbender interpreta os dois, e um dos prazeres do filme é ver como o actor, muito, muito subtilmente, através de um olhar ou de uma inflexão na voz, nos permite distinguir ambos. E, no clímax, deixar-nos na dúvida sobre qual deles sobreviveu (isto embora os mais rodados nesta coisa das fitas já tenham percebido quem é quem). Em termos de presenças, curiosamente, Alien: Covenant é dominado pelas dos dois andróides “irmãos” e pelas dos aliens, já que a maior parte das personagens humanas, além de serem interpretadas por actores pouco conhecidos, são pouco mais do que carne para alien. Exceptuando a corajosa Daniels (Katherine Waterstone), a imediato da nave, já que Ridley Scott gosta de heroínas fortes, embora esta seja uma versão low cost da Ripley de Sigourney Weaver.
É inevitável que a sensação predominante em Alien: Covenant seja de déjà vu, quer em termos da saga propriamente dita, quer de ficção científica cinematográfica ( se Hollywood investisse em mais escritores do género para escrever os argumentos, como seriam mais audaciosos e inventivos estes filmes...), mas é compensada pelo virtuosismo de Ridley Scott com a câmara e o seu talento para filmar seja em espaços apertados, seja em exteriores (há três ou quatro sequências no planeta de cortar o fôlego) e para gerir a distribuição da tensão e do medo pelo filme. Os monstros alienígenas que sangram ácido, rilham humanos como se fossem bifes tártaros e não precisam de amigos, fazem o resto.
Por Eurico de Barros