O presidente da Câmara de Lyon está a atravessar uma crise existencial e decide ir buscar uma licenciada em Filosofia para o “ajudar a pensar”. É esta a premissa de Alice e o Presidente, e só mesmo em França é que um autarca podia fazer uma contratação destas sem ser exposto pelos media e tornar-se alvo da indignação e ridicularização geral.
Fabrice Luchini é Paul Théraneau, um autarca carismático e dinâmico que perdeu o gosto e o estímulo do exercício do poder, e se sente perplexo perante as vertiginosas alterações políticas da nossa era; e Anaïs Demoustier é Alice Heimann, a jovem docente que se vê num meio ao qual é totalmente alheia e que a olha entre a estranheza e a hostilidade.
A presença de Alice na Câmara de Lyon permite ao realizador Nicolas Pariser satirizar de dentro, embora não em tom agressivo, o mundo da política, e expor o desatino e a impotência que se abateu sobre a esquerda francesa (Théraneau é um figurão do Partido Socialista).
Se o autarca está cansado e desiludido, a sua nova conselheira sente-se deslocada e inútil. Junte-se a isto o facto de Théraneau ser divorciado e sem filhos e não ter tempo para uma vida social normal, e Alice não ter família e sentir que leva uma vida vazia e árida, e percebemos que o tema do filme é o encontro de duas frustrações: a de um homem público desencantado e a de uma cidadã anónima insatisfeita. Luchini e Heimann são muito bons, Pariser podia era ter cuidado mais do ritmo e aumentado um bocadinho o volume da comédia. Há momentos de Alice e o Presidente em que o tédio deita a cabeça de fora.
Por Eurico de Barros