Vencedor do Prémio Especial do Júri no Festival de Cannes e nomeado ao Óscar de Melhor Filme Internacional, o novo filme do iraniano Mohammad Rasoulof (O Mal Não Existe) foi rodado clandestinamente, e o cineasta está agora refugiado na Alemanha, após ter sido condenado a oito anos de cadeia e a ser chicoteado pelas autoridades do seu país (já tinha estado preso antes, mas a pena foi perdoada).
Iman, chefe de uma família da classe média de Teerão e jurista, é nomeado juiz de investigação, com poder para assinar sentenças de morte, durante os protestos de Setembro de 2022, desencadeados pela morte da jovem Mahsa Amini quando estava sob custódia policial. A arma que foi distribuída a Iman para protecção, e que guarda no quarto, desaparece, o que pode levar à sua demissão e queda em desgraça, e ele começa a suspeitar da mulher e das duas filhas, e torna-se cada vez mais desconfiado e paranóico, criando uma atmosfera insuportável em casa. Até que, por sugestão de um colega, obriga a mulher e as filhas a serem submetidas a um interrogatório, feito por um amigo do casal, militar e membro dos serviços secretos.
Por meio desta história, Rasoulof mostra os efeitos do regime teocrático repressivo sobre as famílias iranianas, e a forma como estas repercutem no seu interior o funcionamento dos mecanismos do poder político-religioso, e a submissão total e lealdade inquestionável que exigem. Mas também como estão a dividir as gerações e a causar atritos crescentes e rupturas violentas entre os seus membros, o que é ilustrado pela reacção das filhas de Iman, sobretudo a mais velha, aos acontecimentos nas ruas e ao comportamento do pai, ao mesmo tempo que a mãe tenta ser um elemento moderador entre o marido e aquelas.
As interpretações são todas excelentes e a tensão crescente é controlada com punho sempre firme pelo realizador, até o filme chegar a um clímax inesperado, e o único reparo que podemos fazer a A Semente do Figo Sagrado é o ser demasiada e desnecessariamente demonstrativo, sobretudo pelo repetido recurso a imagens dos tumultos feitas por participantes ou testemunhas nos seus telemóveis e depois divulgadas nas redes sociais.