Lisbeth Salander, a hacker da série Millennium, de Stieg Larsson, não podia ter regressado numa melhor altura, na senda do movimento #MeToo e do debate em curso sobre misoginia e questões de género. Não deixa de ser, por isso, um monumental falhanço ver que a adaptação de A Rapariga Apanhada na Teia de Aranha, por Fede Álvarez, lima as arestas da personagem, perdendo-se pelo caminho tudo o que a tornava singular.
O problema não reside na actriz principal (Claire Foy, a rainha Isabel II de The Crown) nem na estética visual, estabelecida por David Fischer em Millennium 1: Os Homens Que Odeiam as Mulheres, de 2011. O problema é que Fede Álvarez não vê nada de especial em Salander, que aqui mais parece uma personagem insípida de jogo de vídeo, sem qualquer complexidade psicológica. A Rapariga Apanhada na Teia de Aranha é a primeira grande produção dirigida pelo realizador uruguaio, que assinou também de Evil Dead (2013) e Nem Respires (2016), mas falta-lhe sangue na guelra. É um tiro ao lado.
Por Joshua Rothkopt