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Por esta altura já foram feitos dezenas de filmes sobre a crise financeira e económica que abalou o mundo, a partir de Wall Street, na década passada, e que ainda hoje se sente. Muitos deles tentam explicar o que se passou, em alguns sai-se com a ideia de que se percebeu alguma coisa, mas no fundo acabam por ser razões que servem apenas o propósito da narrativa e transmitir ao espectador uma sensação de compreensão que ultrapasse minimamente a sua ignorância.
Adam McKay fez mais um. Mas há algo de diferente em A Queda de Wall Street, uma sensação viva de entretenimento enquanto explica os processos e expõe os actos de algumas pessoas que tiveram alguma responsabilidade no que sucedeu. E no meio do horror e na falta de humanidade que se perde no jogo da banca, há um outro jogo, de humor, e uma tentativa eficaz de o tornar hilariante: o que é mais estranho, de facto, é rir ou achar piada a certos momentos enquanto se explica a hipótese do sistema colapsar.
Há um momento fabuloso em que a personagem de Steve Carrell (Mark Baum) percebe como e porquê a coisa se vai desmoronar e os comentários de Ryan Gosling (uma espécie de mestre de cerimónias/ narrador do que vai acontecendo), que está sentado uma mesa à frente, sobre o que está a acontecer acondicionam o espectador para tudo: para perceber a situação e, também, para entrar na sua dinâmica de humor. É um de muitos momentos e artifícios (o mais recorrente é quando se utiliza alguém a fazer de si próprio a explicar certos conceitos associados à crise) em que se percebe que A Queda de Wall Street é perfeito naquilo a que se propõe.
É ácido, sério, suficient1emente dinâmico para nada – e é mesmo nada – ser ou parecer aborrecido. Pelo contrário, desde o primeiro minuto que toda aquela terminologia se torna ridiculamente entusiasmante. E enquanto o faz, mesmo tomando atalhos para simplificar as coisas, entrega uma ideia de entretenimento que é hoje rara nos filmes americanos, com um sentido de humor excepcional que nunca menoriza o que se passou.