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A Primavera de Christine, último filme da realizadora austríaca Mirjam Unger, é a história de uma menina de nove anos, a Christine do título (interpretada, com impressionante segurança, por Zita Gaier), que passa os últimos dias da Segunda Guerra Mundial refugiada com a família numa mansão deserta nos arredores de Viena.
Com a fuga do exército alemão, expulso de vez pelo avanço dos Aliados, os soldados soviéticos vêm rapidamente a caminho da capital austríaca, e esse é o novo medo da família de Christine, que conhece as tropas de Estaline da fama sinistra que corre há meses pelo país e que anuncia a sua chegada.
Medo de todos, excepto de Christine, a única ocupante da casa improvisada que acredita que o advento do Exército Vermelho, mesmo precedido de histórias feias, é uma boa notícia.
Adaptado da autobiografia de Christine Nöstlinger, grande ainda que pouco conhecida autora de livros infantis, A Primavera de Christine, não sendo uma obra propriamente prima, é ainda assim um filme inteligente e delicado, em que o olhar da realizadora é capaz de voltar à infância e de ver o mundo através de uma criança mantendo ao mesmo tempo um ponto de vista de maturidade e de compreensão dos factos muito para além da idade retratada.
A loucura dos tempos nunca é camuflada, mas sobre ela está sempre um olhar sardónico e optimista, sem jamais ser pateta ou piegas, que fazem de A Primavera de Christine um filme delicioso sobre uma criança que se adapta como pode ao mundo, um mundo que nunca é o previsto.