O versatilíssimo e incansável Steven Soderbergh envereda agora pelo terror em A Presença, onde filma uma família de quatro pessoas que se instala na sua nova casa nos subúrbios de uma grande cidade, que tem cem anos mas foi renovada recentemente. A mãe, Rebekah, trabalha muito e adora o filho, Tyler, um nadador de competição, e o pai, Chris, tem que lembrar à mulher, que o domina, que não ela pode desprezar a filha adolescente, Chloe, deprimida após a morte da melhor amiga com uma overdose. Dos quatro, apenas Chloe sente, e logo desde que lá entra, uma presença sobrenatural na casa. O pai, a mãe e o irmão começam por pensar que a rapariga está psiquicamente perturbada com a morte da amiga, mas quando todos testemunham, certa noite, uma manifestação assustadora, convencem-se que existe mesmo um espectro na casa. Decidem então chamar uma vidente, que lhes dá a melhor, embora vaga, explicação sobre a assombração, mas o ambiente em casa, e entre os pais e os filhos, piora ainda mais desde aí.
Baseando-se em algo insólito que aconteceu na sua própria casa em Los Angeles, Steven Soderbergh entregou o argumento de A Presença ao prestigiado David Koepp com quem já tinha trabalhado antes, e rodou a fita no seu melhor estilo independente, poupadinho e “portátil”: em menos de um mês, quase toda no mesmo cenário, usando uma câmara Sony barata e equipada com uma lente adequada à ideia visual que orienta o filme (o realizador foi também o director de fotografia, operador de câmara e montador), sem efeitos especiais e um orçamento de apenas dois milhões de dólares. Dois detalhes importantes e originais: a história de A Presença é contada do ponto de vista do fantasma, e assim Soderbergh e Koepp dão uma grande volta ao cliché da família que se muda para uma velha casa que foi remodelada e é assombrada; e o espectro, ao contrário do habitual, é benigno e não maligno.
Steven Soderbergh despacha-se, e muito bem, em apenas 85 minutos, sem lançar mão de sustos ou de sobressaltos, confiando apenas na atmosfera de crescente tensão e incómodo que se vive na casa, a par do clima de gradual dissolução familiar, e convém ter tido atenção às palavras da vidente quando visitou a casa para entendermos a explicação final. Não há muitos ghost movies contados da perspectiva das entidades fantasmagóricas, e A Presença faria uma sessão dupla ideal com Os Outros, de Alejandro Amenábar, que apesar de ser um filme bastante diferente, tem este ponto em comum com o de Soderbergh.