[title]
Quando um adolescente rouba as chaves do carro ao pai para ir dar uma volta por aí, arrisca acabar por o meter numa valeta, espetá-lo contra uma árvore ou ser engavetado pela Brigada de Trânsito. Quando um pequeno extraterrestre rouba o comando da nave espacial ao pai para ir dar uma volta pela galáxia, arrisca acabar na Terra, perder o comando num bosque, conhecer a Ovelha Choné e todos os seus amigos da quinta de Mossy Bottom e meter-se numa confusão de proporções cósmicas.
É exactamente o que sucede em A Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca, de Will Becher e Richard Phelan, a segunda longa-metragem da ovelha mais irresistível da animação, criada nos estúdios da Aardman, a casa de Wallace e Gromit, dos Creature Comforts e de filmes como A Fuga das Galinhas ou A Idade da Pedra.
Choné encontra Lu-La, um pequeno extraterrestre fofinho cuja nave aterrou no bosque ao pé da quinta. Ao tentar mandá-lo para casa, envolve-se, e a toda a pandilha animal, mais o fazendeiro e os habitantes da vila, numa odisseia que é parte comédia burlesca esfuziante, parte paródia genial ao cinema de ficção científica pós-Guerra das Estrelas, bem como a séries de televisão como Ficheiros Secretos, com uma chapelada-relâmpago a H. G. Wells.
Tudo isto, e como é tradição no ecossistema narrativo da Ovelha Choné, sem que seja pronunciada uma só palavra, recorrendo apenas a efeitos sonoros, grunhidos esparsos e a uma banda sonora muito variada; e combinando a animação fotograma a fotograma com efeitos digitais, sem que fique uma suspeita de costura a ver-se.
A história é tão gloriosamente delirante como cuidadosamente arrumada, o ritmo não dá um minuto de descanso, a metralha de partes gagas, pastiches e piadas visuais, em primeiro ou segundo plano, é em moto contínuo e mantém-se no patamar mais alto da imaginação e da qualidade cómica da primeira à última imagem (e tudo serve para fazer humor em A Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca: uma pizza voadora, um contentor do lixo inspirado em Steven Spielberg, um cão disfarçado de astronauta, a moda das selfies, um arroto de extraterrestre que bebeu gasosas a mais, os maluquinhos dos óvnis, um primo inglês e burocrata de WALL-E, um Transformer do pobre ou um cartucho com batatas fritas).
Paralelamente à história principal, com a qual se vai encontrar a certa altura, decorre um enredo secundário no qual o fazendeiro encarrega o cão Blitzer de construir um parque temático ovnilógico (o Farmageddon do título original), e de cujos trabalhos se encarregam as restantes ovelhas da quinta, em sequências do melhor slapstick ovino, que os realizadores aproveitam para homenagear Buster Keaton, Charlot, Harold Lloyd ou Bucha e Estica.
A Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca é o filme de animação do ano, a comédia do ano, a aventura de ficção científica do ano e a produção de temática rural do ano. Simplesmente méééééééééravilhoso.
Por Eurico de Barros