A Noite do Dia 12

Num bairro de vivendas de Grenoble, Clara, uma jovem que regressa a casa de noite após ter estado com amigos, é queimada viva. Uma brigada da Polícia Judiciária, chefiada pelo jovem e recém-promovido capitão Yohan Vivés, começa a investigar o horrível assassínio. Há vários suspeitos mas poucas pistas concretas, as dúvidas são cada vez mais e o caso torna-se uma obsessão para Yohan (Bastien Bouillon) e para o veterano inspector Marceau (Bouli Lanners). Grande vencedor dos Césares deste ano, e inspirado num facto real, A Noite do Dia 12, de Dominik Moll, dá atenção à investigação do crime, mas também aos  problemas e frustrações pessoais, familiares e profissionais dos agentes nela envolvidos (tensões conjugais, falta de pagamento das horas extraordinárias, problemas nos computadores, fotocopiadoras permanentemente avariadas), assim como à crescente angústia de Yohan e Marceau, assombrados pela barbaridade do crime e pelo espectro cada vez mais presente da sua possível não resolução. O realismo a laser e à lupa da realização, e a preocupação com o detalhe e o factor humano, acabam traídos e estragados pela introdução martelada, já perto do final, do discurso em voga, reducionista e insultuoso para homens e mulheres, segundo o qual todas estas não passam de vítimas indefesas, e todos aqueles são assassinos em potência (“Clara foi morta por todos os homens”, diz-se a certa altura). Antes de pensarem em fazer outro policial, Dominik Moll e os seus argumentistas precisam de ler alguns livros do Inspector Maigret de Georges Simenon, para aprenderem o que é a natureza humana e a complexidade do comportamento dos homens e das mulheres.