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Se existissem títulos universitários para a farsa política, o escocês Armando Iannucci era professor catedrático com louvor e mérito. Depois de ter assinado duas das melhores séries de comédia de sempre que gozam com regimes democráticos, The Thick of It, passada em Inglaterra, e Veep, nos EUA, Iannucci saltou para o cinema para flagelar de riso (muito, muito negro) o totalitarismo comunista em A Morte de Estaline.
Baseado na banda desenhada de Fabien Nury e Thierry Robin, A Morte de Estaline, com 20 minutos decorridos, estica o dito, com um colapso fulminante, na carpete do seu gabinete de trabalho, sobre uma indigna mancha de urina. E depois, o filme passa o resto do tempo num frenesim atrás dos membros do círculo político mais íntimo do tirano, enquanto se reúnem, conspiram, fazem alianças e se aniquilam uns aos outros, para lhe suceder à frente da URSS. Nas margens deste afã sinistro, vão-se sucedendo episódios ridículos, surreais ou aterrorizadores.
Servido por um muito britânico e mortífero humor negro, e um enorme sentido do macabro grotesco, e mexendo-se a toque de caixa com o impulso da dinâmica conspirativa da história, A Morte de Estaline tem ainda uma brilhante galeria de actores nos papéis certos para cada um, do aplicadamente monstruoso Beria de Simon Russell Beale ao Molotov pamonha de Michael Palin, passando pelo ridículo mas matreiro Malenkov de Jeffrey Tambor. É preciso muito talento para fazer rir com o horror totalitário, e Armando Iannucci tem-no que chegue e sobre.
Por Eurico de Barros