Diz o grande livro dos clichés do cinema que quando duas personagens de um filme estão retidas num aeroporto por causa do mau tempo, têm a máxima urgência em chegar aos seus respectivos destinos, alugam uma avioneta a um sujeito que se gaba que pilotou caças no Vietname e não tem medo de tempestades, e que não faz plano de voo antes de partir, é mais certo que a morte e os impostos que se vão espetar numa montanha remota, que o piloto morre no desastre e que elas terão que tentar não desesperar e sobreviver no meio do frio e da neve até que alguém as salve.
É precisamente isto que acontece, em A Montanha Entre Nós, ao médico interpretado por Idris Elba e à fotojornalista personificada por Kate Winslet, com o extra de estarem acompanhadas pelo cão fofinho do dito piloto. Realizado pelo palestiniano-holandês Hany Abu-Assad, que antes de ter sido cooptado para esta pepineira assinou filmes que juntavam a qualidade à actualidade, como Rana’s Wedding, O Paraíso, Agora! ou Omar, A Montanha Entre Nós cumpre à risca, e descaradamente, com todos os clichés do filme de sobrevivência cruzado com o drama romântico. Elba, Winslet e o canídeo fazem o que podem, mas ao contrário das personagens, este filme não tem salvação possível.
Por Eurico de Barros