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Chamar “Courgette” a uma criança já tem que se lhe diga. Agora, fazer um miúdo de nove anos acreditar ser o responsável pela morte da mãe, uma alcoólica dada à violência que caiu escada abaixo, é, convenhamos, pelo menos cruel.
Este filme de Claude Barras, nomeado para o Óscar de Melhor Filme de Animação, conta também como o rapaz faz amizade com Raymond, o polícia que o acompanha até à casa da sua nova família de acolhimento, e como o gaiato, marcado pela desgraça e pela culpa, tenta sobreviver, adaptando-se ao novo e não poucas vezes hostil ambiente. Embora um pouco dada ao moralismo, é verdade que a narrativa de corre a bom ritmo, como que deslizando entre quadros que confrontam a visão infantil com a perspectiva adulta, sem esquecer a violência inerente ao novo, digamos, estilo de vida de Courgette. O seu percurso é, aliás, bem preenchido pelo humor, conseguindo a realização (apoiada no argumento Céline Sciamma, a partir de Autobiographie d’Une Courgette, de Gilles Paris) introduzir com astúcia e sem pinga de propaganda o universo de crianças abandonadas e traumatizadas e sós, enfim, deixadas à sua sorte e à bondade de estranhos.
Por Rui Monteiro