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Uma coisa que não se deve fazer é adormecer num comboio. Principalmente na Índia, principalmente quando se tem cinco anos. Porém assim foi, e Saroo acordou e deu por si separado do irmão, só, perdido a milhares de quilómetros de sua casa e do seu destino. Sem outro remédio aprendeu a sobreviver na imensidão de Calcutá. Com sorte foi adoptado por um casal de australianos. Vinte e tal anos depois…
O rapaz cresceu, teve uma boa vida, ultrapassou, como se tivesse esquecido, o trauma, é educado e, interpretado por Dev Patel, duas décadas depois surge como um homem aprumado e calmo a sair das águas, assim, a modos, como um renascido. E depois a realização entre o xaroposo, o demagógico e o comovente de Garth Davis regressa ao passado, à aventura de uma criança numa metrópole sobrelotada, enxameada por gente de todos os tipos, como de costume o submundo controlado por gente de mau carácter e ainda menos escrúpulos.
No presente, entretanto, o filho adoptivo de John e Sue Brierly (ou seja: David Wenham e Nicole Kidman em papéis mais ou menos decorativos) começa a ser assolado por imagens do passado e por uma necessidade de reencontrar a sua família biológica. Ora, é mesmo para isso que ser o Google Earth, que, assim, passa a ter um importante papel neste melodrama. Davis não ousa quebrar as regras do género nem abusa do exotismo indiano. Contudo o seu desejo de representar as diferenças e as contradições entre um mundo de miséria e um universo de bem-estar, é torpedeado pela ausência de ousadia, pela incapacidade de ir além do postal ilustrado por bons sentimentos.